O impacto da barragem do Alqueva sempre me intrigou. Sempre fui um grande defensor da barragem, e das várias vezes que lá passei, não pude deixar de admirar quão admirável é aquela obra, nas suas várias vertentes. Para os ecologistas, já se sabe, as consequências são sempre negativas, como a leitura da cronologia da barragem o confirma. Foi por isso que a leitura do Notícias Magazine de ontem me revelou uma agradável surpresa! Os comentários abaixo, foram retirados da revista, e mostram o contentamento de pessoas ligadas à vitivinicultura:
Para o escanção Carlos Romero, "essa é uma questão contorversa. Há quem não goste e há quem ache fantásticos os verões, e sobretudo as noites mais frescas no Alentejo". Segundo Romero, "os verões mais amenos dão vinhos mais elegantes e mais equilibrados, como se confirmou nas safras de 2007 e 2008. Quando os estios são demasiado quentes, as uvas têm maturações muito rápidas e isso não é bom para os vinhos. Há muitos produtores contentes com um Alentejo mais fresco, por influência do Alqueva."
Jose Silva, crítico gastronómico e de vinhos, partilha os argumentos. "Isso é assunto muito polémico. Como acontece com o famigerado aquecimento global, e nos últimos três anos temos tido invernos muito frios e verões muito frescos, muito abaixo da média." Mais: "É um facto que uma superfície de água contínua como o Alqueva provoca um aumento de humidade e a possibilidade de nevoeiros matinais mais frequentes. Mas também pode suavizar as temperaturas e ajudar a uma maturação mais lenta das uvas, o que é bom. Aliás, foi o que aconteceu nos últimos três anos um pouco por todo o país, com verões suaves e noites frescas, as uvas a amadurecerem lentamente e a dar vinhos excelentes em 2007 e 2008. E as tecnologias ao dispor da viticultura e da enologia permitem fazer acertos e controlar tudo, é uma questão de estudar e adaptar."
Filipe Teixeira Pinto, 33 anos, enólogo da Herdade do Sobroso, vizinha do Alqueva e um misto de casa produtora de vinhos e turismo rural, aponta os prós e os contras sem dramas. "O Alqueva tem influência directa mas não de uma forma drástica como se pensa. De certa forma, a água veio amenizar os extremos de temperatura, o que é muitíssimo bom para a vinha. Acabaram-se os verões e invernos de inferno. Com esta mudança, por seu lado, vieram sazonalmente, sobretudo no Inverno e Primavera, os temidos nevoeiros matinais, terríveis para a vinha por causa da mais fácil propagação de fungos e que implicam directamente com a sanidade vegetal da videira." Acrescenta que, para matar o míldio: "Para já, antes de haver barragem faziam-se três tratamentos anuais, agora somos obrigados a fazer o dobro, com os custos que isso representa." Afirma logo de seguida que "também não tínhamos água à porta de casa e agora podemos captá-la directamente do lago. Os benefícios são superiores aos malefícios. Vale bem a pena qualquer pequeno senão."