Depois da contra-informação à Zorrinho, calculamos as poupanças em carvão. Depois, metemos mãos à obra, para calcular a poupança em gás natural, utilizado nas centrais de ciclo combinado. A tarefa foi bem mais demorada, porque os dados são difíceis de obter.
O problema principal foi obter os custos do gás. A ERSE utiliza essencialmente os valores de Zeebrugge, dados pela Reuters. O problema é que esses dados não são públicos. A ERSE tem alguns gráficos disponíveis, nomeadamente neste relatório (pag. 22 do PDF), bem como valores recentes, nesta página. Esses valores, para além disso, tinham ainda o problema de se saber qual a quantidade de gás natural consumido, que podia ser obtido do site da DGEG, tal como fiz com o consumo de carvão.
Optei, todavia, por utilizar os dados da Comissão Europeia, cujo relatório mais recente do Observatório do Gás, está disponível neste link. Na página 9 do PDF encontramos o custo do gás, expresso convenientemente em €/MWh. O problema, mais uma vez, foi obter os dados concretos, pelo que tive de os calcular a olhómetro. Para os dados do segundo trimestre de 2010, tive que calculá-los a partir da página da ERSE já referenciada, tomando como referência os valores de Janeiro de 2008. Dos cálculos que fiz, é possível um erro de 5%.
Depois, foi só pegar nos valores de produção de energia eléctrica, a partir do gás natural, disponíveis no site da REN, neste caso unicamente a partir de 2007. O resultado é o gráfico acima, onde podemos comprovar que a poupança em gás natural, no primeiro semestre de 2010, quando comparado com igual período de 2009, é de cerca de três milhões de euros! A poupança é maior em relação a 2008, mas comparativamente com 2007, o que se observa é um custo bastante maior...
Resumindo, e tal como previa, as poupanças derivadas das energias renováveis, no consumo de gás, foram muito pequenas no primeiro semestre. Se somarmos à poupança de carvão, pouparam-se 80 milhões no primeiro semestre. Faltam ainda as poupanças de fuelóleo, que deverão ser ainda inferiores às do gás natural. Portanto, os 800 milhões de Zorrinho são uma absoluta miragem, e desta vez, é mesmo o Sócrates que deverá ter os valores correctos. Os tais 100 milhões de euros, referenciados na Universidade de Columbia...
Actualização: Segundo esta notícia do Público, José Sócrates diz que, afinal, os 100 milhões de poupança de combustíveis fósseis, aconteceram no primeiro semestre. Ainda acima do valor correcto. E, mais uma vez, as verdades dizem-se fora do país, neste caso na Líbia. Aposto que o Zorrinho não estava lá para o ouvir! E como a poupança no segundo semestre deve ser muito pequena, vamos mesmo ficar perto de uma poupança de 100 milhões. Como o custo das renováveis vai ser superior a 800 milhões de euros, o sobrecusto vai ficar muito próximo dos 700 milhões de euros, como previsto pela ERSE, e repetidamente referenciado aqui no Ecotretas.
Actualização II: Um leitor atento alertou-me para o pormenor de que José Sócrates tenha referido que a poupança dos 100 milhões de euros foi mensal, durante o primeiro semestre. A minha alma está completamente parva! É um erro de uma ordem de magniutude... Coisa pouca, para quem não faz ideia do que anda a pregar!