sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Previsões vergonhosas do Instituto de Meteorologia

O Instituto de Meteorologia lançou ontem, com grande fanfarronice, e papagueado pelos do costume, os cenários climáticos para o continente no século XXI. A motivação é simples (realces da minha responsabilidade):

Por forma a contribuir cientificamente para a sustentação destas medidas de adaptação, o Instituto de Meteorologia, I.P. desenvolveu, em parceria com o Instituto Dom Luiz da Universidade de Lisboa e integrado no consórcio Europeu ECEARTH, a realização de cenários globais para o clima de Portugal continental, cujos resultados serão igualmente integrados no próximo relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC).

Quando cheguei à parte dos gráficos, entrei praticamente em choque com as imagens das anomalias de precipitação e temperatura até 2100:


O primeiro problema começa quando o Instituto de Meteorologia avança referindo um estudo supostamente recente, mas em que depois se verifica que os cenários futuros afinal começam em 2006! Será que o Instituto de Meteorologia não tem dados mais recentes? Mas se se ampliarem os gráficos, como se observa abaixo, rapidamente se percebe que a curva preta, que segundo o IM corresponde ao "período de 1850-2005", afinal termina em 2000!

Sobre o gráfico da anomalia de precipitação, o primeiro acima, nem é preciso verificar o que quer que seja. O Instituto de Meteorologia utilizou dois cenários, o cenário RCP4.5 (menos gravoso) e RCP8.5 (mais gravoso). Mas reparem que, em grande parte das próximas décadas, quando um vai para cima, o outro vai para baixo! O leitor é capaz de se imaginar a fazer uns rabiscos no gráfico, e a fazer uma previsão igualmente válida? Ou então imaginar como seria o gráfico se o Aquecimento Global/Alterações Climáticas pudessem ser resolvidas com um estalar de dedos? Será que ficaria uma recta horizontal, como aquela que aparece nos monitores cardíacos quando um paciente morre?

Quanto às temperaturas, a escandaleira é ainda maior! Comecemos pela imagem à esquerda abaixo (clicar nas imagens para observar em maior detalhe ainda), retirada da página 5 do Boletim Climatológico do Ano 2010, e que representa a variabilidade da temperatura média anual em Portugal Continental. Agora, vejam na imagem da direita a ampliação da imagem acima. Vejam primeiro como conseguiram acelerar a subida! Mas a aldrabice é fácil de desmontar se verificarmos que as médias de 2006 e 2011 (este ano foi precisamente de 16.00ºC) foram praticamente idênticas aos valores de 1948 (que também registou exactamente 16.00ºC!) e 1949. Vejam onde ficam estes dois anos recentes no gráfico abaixo:


Agora se repararem que os outros anos da década passada foram bastante inferiores aos de 2006 e 2011, a desmontagem das previsões está completa! É preciso ter muita lata, e ser muito incompetente, para publicitar estes gráficos da treta!