sábado, 22 de outubro de 2011

Mais tretas do Biosfera

A semana passada iniciámos a análise do programa da Biosfera sobre as barragens. Aqui continuamos a evidenciar as asneiras que se disseram nesse programa, cuja primeira parte podem ver abaixo. A qualidade destes programas pode-se medir pela quantidade de asneiras que se detectam. Há algumas muito fáceis: vejam, ao minuto 5:07 como a locutora fala de um preço de 9.5 cêntimos por kWh, enquanto visualmente aparece 0.95 €/kWh...

Outras contas são feitas sem que sejam documentadas. Aos 6:45, o programa cita a ERSE nos custos económicos de interesse geral, no valor de 2406 milhões de euros. Esse é um valor bem conhecido dos leitores do Ecotretas, conforme evidenciamos neste post. O problema é o que se segue! Segundo o programa, a ERSE diz que 45% desse bolo (1075.8 milhões de euros) vai para as energias fósseis. O problema é que nenhum documento oficial da ERSE refere este valor, desconhecendo-se por completo como o Biosfera lá chegou.

O Ecotretas contactou directamente com a coordenadora do programa Biosfera, mas esta manifestou-se mais interessada em saber a minha identidade, do que explicar as contas que apareceram no seu programa. O conselho que me foi dada foi o de "pedir os dados à ERSE como os nossos intervenientes fizeram e a fazer as contas". Portanto, um dos intervenientes do programa fez as contas acima referidas, e não a ERSE...

A forma enviesada de fazer contas e explicar o processo é facilmente perceptível pelas declarações de João Joanaz de Melo, da GEOTA, ao minuto 6:18:

O nome dessa legislação é um incentivo à garantia, à potência garantida, ou seja, por uma central eléctrica existir, seja ela hídrica ou termo-eléctrica, ela tem direito a receber aquele subsídio do Estado, só para estar lá parada, à espera, de talvez ser preciso pô-la a funcionar...

Por estas declarações ficamos a perceber que estas rendas não são só para as energias fósseis... A garantia de potência vai-nos custar 49 milhões de euros por ano, segundo a Biosfera, mas pelas contas da ERSE (pag. 234), vai-nos custar afinal 62.8 milhões de euros por ano. No quadro 3-6 da página 38 do mesmo documento podemos ver que 45.6 milhões de euros são para a EDP, e 17.2 milhões são para a Endesa, pelo que também não é aqui que a bota bate com a perdigota. Aliás, aí confirmamos que apenas a barragem do Alqueva entra nestas contas...

Mas o que o Joãozinho não percebe é que esta renda existe por causa das eólicas... E então a última parte da frase do Joãozinho é ainda mais confrangedora! Então ele não sabe que é muito mais que um talvez? Ele não sabe que durante uma parte substancial do tempo, as eólicas não produzem praticamente nada, e mesmo quando o fazem, que é sobretudo durante as madrugadas???

É esta confrangedora intermitência das eólicas que também justifica os CMEC e os CAE. O Prof. Pinto de Sá já o explicou aqui de forma clara. Imputar isto às energias fósseis é um erro crasso, e nos 1075.8 milhões de euros referenciados pelo Biosfera, certamente 727.4 milhões ficam-se a dever a estes dois componentes! Mesmo na cogeração, uma parte importante é renovável! É ao misturar tudo no mesmo saco dos fósseis, ilibando a responsabilidade das renováveis, que a Biosfera pecou gravemente!