sexta-feira, 9 de abril de 2010

Gestão à Mexia

A bronca dos prémios ao António Mexia percorre a sociedade portuguesa. Vemos muita gente abismada, com o Correio da Manhã a enumerar aqui algumas das reacções:
  • "É economicamente chocante": Mira Amaral - Presidente do Banco BIC
  • "Obscenos. É uma imoralidade!": António José Seguro - Dirigente do PS
  • "Choca-me imenso (...) É uma vergonha": João Soares - Deputado do PS
  • "É um escândalo": Henrique Neto - Empresário e ex-dirigente do PS
  • "O desequilíbrio salarial em Portugal é excessivo": Vieira da Silva - Ministro da Economia
Todos se insurgem contra as condições que estão no contrato. Mas o problema não está no contrato, como alguns ingenuamente reclamam. Está na gestão à Mexia!

Comecemos pelo mais básico. Para ter prémio é preciso ter lucros. Muitos lucros! Despachar uma parte da EDP para investidores incautos é sempre uma óptima ideia. Foram apenas cerca de 405 milhões de euros com a IPO da EDP Renováveis... Mas vender é o que está a dar. Ainda em 2008, toca a despachar as posições na Turbogás (40%) e Portugen (27%), para mais 49 milhões de euros, bem como 1,5% do capital da REN (mais 17 milhões de euros) e a totalidade da posição na Edinfor (4,8 milhões de euros). Vamos a grande velocidade, ainda agora abrimos o calhamaço de bem gerir, e já lucramos quase 500 milhões de euros, o que já dá um valente bónus.

Mas isso foi em 2008. Em 2009, a saga vendedora continuou. No Brasil, a venda da ESC 90 rendeu mais 45 milhões de euros, com um ganho financeiro de 19 milhões. Em Portugal vendeu os 8% que ainda tinha na Sonaecom, com um duplo benefício: redução da dívida líquida na casa dos 53 milhões de euros e uma mais-valia de 28.9 milhões de euros. Mais 13 milhões de euros apareceram em resultado da entrada da Sonatrach no capital da CCGT Soto 4.

Mas é possível fazer muito mais! Subir o preço da energia é um deles. Com uma política encoberta, a subida este ano da electricidade em Portugal foi de 2.9%, depois da subida do ano passado ter sido de 4.9%! Esta subida foi possível depois de se assustar com 40% de subida... A aposta nas energias renováveis contribui para que a sociedade até suporte estas subidas!

Depois há as dívidas. Em 2008 a dívida subiu 18.8% e os custos com juros disparam 33%, para um gasto total de 721,8 milhões de euros no pagamento de juros. Para este ano, prevê-se que a dívida da EDP vai superar os 15 mil milhões de euros este ano, um crescimento acima dos 7% face ao nível do final de 2009. Considerando o total do Universo EDP, a dívida subiu de 14661 milhões de euros em 2008, para 16127 milhões de euros em 2009, uma subida de 10%! A maturidade da dívida subiu, perdendo-se assim o efeito das baixas taxas de juro no curto prazo; mas que se lixe, alguém que não a gestão actual há-de pagar! Perante esta gestão, a S&P reviu o outlook de estável para negativo, enquanto a Moody baixou o rating da EDP de ‘A2/Neg’ para ‘A3’. Mas isso aconteceu em tempos em que ainda ninguém sabia muito bem o que isso era!

Mas é também preciso aumentar os lucros à custa das migalhas! Como todos sabemos na gestão, não há almoços grátis! Mais 237.50 euros de prémio!

Bem, é melhor ficarmos por aqui... No final desta história, deixo o registo para uma ocorrência de que poucos já se lembram. Vítor Franco, do conselho geral e de supervisão (CGS) da EDP, demitiu-se há um ano. Já tinha topado este tipo de gestão... Como se costuma dizer, roubar não é vergonha nenhuma, ser apanhado é que é uma vergonha!