domingo, 6 de maio de 2012

Três em um da nossa desgraça

Há uma semana elaborei um post que evidenciava como o incremento em termos de potência foi muito superior ao consumo de electricidade, em hora de ponta, ao longo dos últimos anos. Na altura referi que esperava pelos dados da DGEG para fazer um gráfico equivalente sobre o consumo anual. Todavia, alertado por um leitor de que poderia esperar sentado, resolvi avançar com a extrapolação dos valores para o consumo do ano passado.

Os dados da DGEG, que são mais fáceis de consultar no Pordata, diferem dos dados da REN em vários aspectos. Os dados da DGEG são supostamente mais completos, porque incluem os valores de consumo das Regiões Autónomas, subtraindo também o consumo próprio das centrais. A correlação entre os dois valores das duas entidades, nos últimos anos, tem todavia sido muito elevada, pelo que é possível estimar com grande fiabilidade o valor para 2011 da série da DGEG, utilizando o valor da REN de 2011.

O resultado desta análise é a imagem seguinte. A verde está o consumo de energia em Portugal, expresso em TWh. Note-se como a subida é praticamente linear entre 2000 e 2007, mantendo-se estável a partir daí. Note-se igualmente a grande quebra no ano passado. A vermelho temos a relação entre a capacidade total de geração de energia (utilizamos a fórmula Potência*24*365), e o consumo observado. Nesta última vertente observa-se uma subida a partir de 2002, que entretanto dispara no últimos anos:



Estes dados permitem uma confirmação empírica daquilo que já dissemos aqui no blog. É efectivamente verdade que para produzir energia em Portugal já ultrapassamos em capacidade mais de três vezes as necessidades de consumo anual! E olhando para onde cresceu essa capacidade nas últimas décadas, mais uma vez a energia eólica é a grande culpada. E como a energia eólica não é fiável, precisamos das barragens para a armazenar, e das térmicas para produzir quando não existe vento. É, efectivamente, o três em um da nossa desgraça!