sábado, 28 de abril de 2012

Potência vs. ponta

A imagem ao lado dá-nos uma ideia clara de como o sistema eléctrico português descambou nos últimos anos. A verde está o total de potência instalada em Portugal (escala à esquerda), e que cresce de cerca de 10 GW em 2000 para quase 19 GW em 2011. A azul está a potência máxima solicitada à rede (escala à esquerda), e que corresponde ao pico de consumo, e que cresceu de uma forma muito inferior, de cerca de 7000 MW em 2000 para um máximo de cerca de 9400 MW em 2010. A vermelho está o rácio entre as duas variáveis (escala à direita), e que cresce, nestas circunstâncias, também a um ritmo muito elevado. Todos os dados foram obtidos a partir da REN e ERSE.

O que significa este crescimento deste rácio? Uma coisa muito simples: temos capacidade instalada em demasia. No ano passado, pela primeira vez, tivemos mais do dobro da capacidade instalada do máximo do consumo atingido em Portugal! Ou seja, para termos uma certa quantidade de electricidade, temos o dobro do que seria necessário para produzir essa tal quantidade! Utilizando a analogia do Luz Ligada, poderíamos imaginar que cada um de nós teria sempre o dobro de lugares, ou de transportes, para nos deslocarmos de um lado para o outro!

Porque acontece isto? A maior razão está relacionada com o baixo factor de capacidade da energia eólica em Portugal, e que tem determinado a subida da potência instalada. Os leitores dirão que o mesmo acontece com a energia hidroeléctrica, mas ao contrário das eólicas, a energia produzida pelas barragens pode, e é, mobilizável justamente nos períodos de maior consumo. E o que é que isto significa? É uma evidência que estamos a pagar um duplo investimento para termos a certeza que temos electricidade nos picos de maior consumo! E estou só a falar de consumo de ponta, porque para o consumo médio, a situação ainda é mais vergonhosa. A ela voltarei quando tiver os dados de consumo de 2011, que ainda não foram publicados pela DGEG.

Noutros países, em vez de se fazer uma gestão esbanjadora, faz-se uma gestão apertada. O exemplo Norueguês é um clássico, como pode ser visto neste documento. Este estudo alemão analisou a realidade da Alemanha. Na verdade, a maioria dos estudos restantes que observamos são antigos, pois esta é uma realidade muito inconveniente...