O programa Pessoal e Transmissível, da TSF, é um dos meus programas radiofónicos preferidos. No passado dia 30 de Junho, Carlos Vaz Marques [CVM] entrevistou Rui Luís Reis [RLR], responsável pelo Instituto Europeu de Excelência em Engenharia de Tecidos e Medicina Regenerativa, uma equipa portuguesa que lidera a investigação em biomateriais a nível europeu.
Carlos Vaz Marques, apresentador do programa, começou com um provocador:
Qual é a ameaça mais perigosa, Prof. Rui Luis Reis, a que a ciência está submetida actualmente? |
A resposta de Rui Luis Reis é a imaginada pelos leitores habituais do blog (todos os realces são da minha responsabilidade):
[RLR]:Eu diria que são duas coisas. Uma tem a ver com a influência, muitas vezes a má influência dos políticos, e outra tem a ver com o reconhecimento do mérito e de que forma isso influencia a atribuição do financiamento. |
A entrevista começara bem. Não tardou muito, aos 3:10, a continuar numa dimensão conhecida:
[RLR](...) há obviamente um ambiente hostil em muitas coisas, mas há também hoje em dia uma percepção e uma abertura para a ciência. Nunca se viu tantos cientistas nos Media, tantas entrevistas, tantos jornais a começar a ter as suas pequeninas páginas de Ciência... [CVM]: Portanto esse ambiente está a mudar? [RLR]: Está. O problema é que muita dessa gente e dessas áreas que são mediatizadas, muitas vezes não é a correcta e é isso que querem dizer muitas vezes os nossos bons cientistas que trabalham no estrangeiro: é que o nosso sistema não se auto-filtra em termos de mérito e portanto há um conjunto, que eu chamo de vedetas, que aparecem sempre. Muitas vezes não estão a fazer grande coisa mas sistematicamente para a comunicação social muitas vezes, e depois obviamente via comunicação social para as pessoas, essas é que são as pessoas, essas é que são os nossos cientistas. [CVM]: E isso é assim porquê? [RLR]: Isso é assim como em muitas áreas; começaram a haver umas pessoas que são relativamente conhecidas. Essas pessoas muitas vezes estão mais ligadas ao poder, têm acesso a um conjunto de coisas, começam a aparecer, e depois é uma questão de quais são os números que eu tenho no meu telemóvel, não é? E telefono sistematicamente aquela pessoa para falar muitas vezes sobre coisas que não percebe (...) |
Nem era preciso dizer tanto...