sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O Homem, esse pulha

Só hoje me avisaram de um artigo do Henrique Raposo no Expresso de ontem. O cepticismo começa a chegar aos opinion-makers e isso não é bom para a Religião Verde! Isso é claramente visível nos comentários dos acólitos ao artigo. Mas o que aqui interessa é transcrever as afirmações corajosas do Henrique:

Um amigo mui verde dizia há dias: "tu não respeitas o consenso científico em redor do aquecimento global". Não, nada disso. O meu problema não está no tal consenso científico. O meu problema está na linguagem agressiva e intolerante do ambientalismo, nomeadamente de muitos cientistas-ativistas. O meu problema está nessa estranha fusão entre ciência e ativismo. Certa vez, ouvi ao vivo um cientista a dizer o seguinte: "como é que alguém pode por em causa a tese do aquecimento global provocado pelo Homem?". E este excelso senhor, com phd e tudo, dizia aquilo com um ar de nojo, um ar de indignação moral. Ou seja, aquele cientista comportou-se de forma anti-científica, pois transformou uma questão técnica numa questão moral, transformou uma hipótese num dogma. A ciência moderna fez-se - precisamente - contra aqueles que estavam sempre a dizer "como é que se pode pôr isto em causa, meu Deus?".

A teoria tem demasiados buracos, mas o meu problema nem é esse. O meu problema está na obsessão do ambientalismo com o Homem. O Homem é sempre a ameaça. O Homem ou a Humanidade (sempre com o peso da maiúscula) é a sarna do mundo. Em Tópicos para uma Catástrofe, Elizabeth Kolbert é bem clara neste ponto: a terra, diz-nos a autora, entrou numa fase chamada "Antropoceno", uma nova era que se define pelo facto de uma criatura - o Homem - ser tão poderosa que pode alterar o planeta a uma escala geológica. Ora, este é o velho antropocentrismo do pensamento ultra-racionalista. Nos séculos XVII e XVIII, este antropocentrismo emergiu no chamado iluminismo. Nessa altura, dizia-se que o Homem era tão poderoso que podia controlar a natureza em seu benefício, de forma positiva. O Homem era o centro do mundo e podia fazer tudo, porque a sua acção só podia ser benigna. Séculos depois, este ambientalismo é o herdeiro directo dessa mentalidade. Mudou de cor? Sim. A utopia tecnológica deu lugar à distopia ambiental? Sim. Mas a maneira de pensar é a mesma: o Homem está no centro de tudo. O Homem santo do iluminismo deu lugar ao Homem pulha do ambientalismo, mas o Homem continua a ser a causa de tudo. É por isso que - como dizem vários cientistas não-ativistas - os vulcões e as variações do Sol ficam de fora dos modelos climatéricos do costume. Um pouco estranho, não? É por isso que que as vanguardas do ambientalismo procuram explicações antropocêntricas para fenómenos naturais como o tsunami do Japão. Como não toleram a existência de forças superiores ao Homem, como não toleram uma natureza superior ao Homem, estas vanguardas verdes acham que os atos da natureza só podem ser efeitos de uma causa humana. Um pouco anti-científico, não?