O mais papagueado, e que merece maior atenção na análise, é o parágrafo seguinte:
Com efeito, este número que era inferior a 100 na década de setenta do século passado, tornou-se superior a 450 na última década. Igualmente os prejuízos relacionados com estes desastres eram na década de setenta inferiores a 10 mil milhões de dólares/ano, tendo na última década o valor médio anual estimado sido superior a 80 mil milhões. |
Não se lhes ocorrerá que as tecnologias de detecção e relato de desastres melhorou significativamente ao longo das últimas décadas? Para quem tiver dúvidas, não deixem de consultar esta excelente lista no WUWT.
Não se lhes ocorre que estes supostos desastres, que eles ficam a saber pelos populares, tenham subido substancialmente porque os populares têm mais máquinas fotográficas e de filmar, ligações à Internet, ou mesmo estações meteorológicas? Não se lhes ocorre que no passado eram sobretudo relatados os eventos em apenas locais de maior dimensão, escapando completamente os das populações isoladas?
E não ocorre a ninguém ir observar os números? Na lista dos maiores desastres naturais do Wikipedia, por mortes, nos cinco primeiros com mais mortes, o mais recente é justamente de 1970, quando o ciclone Bhola matou cerca de meio milhão de pessoas! Será que esse não contou para a década de 70? E nos dez primeiros da lista só aparece um da última década, o tsunami de 2004, que manifestamente nada teve a ver com o Clima! Se se olhar apenas para a lista de ciclones, então na última década apenas aparece um nos primeiros dez, e olhando para as outras sub-listas, as poucas presenças da década anterior são insignificantes face às reais tragédias da História!
O IM depois entusiasma-se com a onda de calor de 2003, durante a qual se estima que o número de mortos tenha ultrapassado os dois mil. Errado! Segundo o estudo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, cuja análise rigorosa abordamos aqui, o excesso global de óbitos foi de 1953, o que na minha matemática continua a ser inferior a 2000. O IM não refere, pela sua inconveniência, que já em 1981 havia ocorrido uma onda de calor semelhante, que matou na altura cerca de 1900 pessoas (página 33 do mesmo estudo anterior). Porque esconde esses factos? Porque não refere as mais de 4000 mortes em excesso que ocorrerem em função da onda de frio do mês passado?
E continua com as cheias da Madeira, que havíamos contextualizado aqui. Uma referência muito oportuna, até porque a tragédia teve os custos que teve, sobretudo por culpa do próprio Instituto de Meteorologia, que foi incapaz de prever o que quer que fosse, conforme as referências no link anterior. Mesmo em termos históricos são uma nódoa, sendo muito mais interessante o blog de José Lemos, que havíamos também referenciado...
Enfim, um caduco Instituto a querer sobreviver...
Actualização I: Parece que o próprio IM nem sequer olha para os documentos da Organização Meteorológica Mundial. Na página 21 estão os gráficos abaixo, onde é claro que o número de mortes desceu significativamente, embora tenham aumentado os custos, perfeitamente normal em função de vários indicadores económicos (valor dos bens, inflação, etc.). Sintomático é o que a própria OMM diz:
Are disasters increasing? Climate change has to an extent, created a public perception that the number of natural disasters is rising. The truth is more complex. While scientific studies of meteorological data are starting to show increases in the occurrence of some weather extremes, an important component lies in the exposure of communities. |