quinta-feira, 15 de março de 2012

Eólicas dão cabo da nossa água

Numa troca de palavras com Rui Rodrigues, ele apontou-me para uma reportagem da SIC (ver abaixo), que aborda a temática da qualidade da água nas barragens do PNBEPH. Ora, como as novas barragens são necessárias por causa do excesso de eólicas, aqui está mais um efeito nefasto dos excessos da política das ventoinhas, dos melancias deste país. Não bastava serem caras, vulneráveis, poluirem e matarem; agora podemos culpabilizá-las também pela diminuição da qualidade da água, que as futuras barragens tenderão a causar.



É conhecido o impacto que as barragens têm na qualidade da água. Água parada é diferente de água corrente. Mas, é claro que este domínio é complexo. Veja-se o exemplo da Quercus, que considerou que a "água do rio Guadiana, na zona de Serpa, passou de “boa” em 2008 para “excelente” em 2009". Ou seja, mesmo com o Alqueva, a qualidade da água é excelente... Mas nem tudo é assim tão simples. No Relatório Ambiental do PNBEPH, percursor à escolha definitiva das barragens do PNBEPH, já era referenciado de forma clara:

Em termos de quantidade dos recursos hídricos, esta Directiva estabelece o seguinte: “Assegurar o fornecimento em quantidade suficiente de água de boa qualidade, conforme necessário para uma utilização sustentável, equilibrada e equitativa da água”, meta esta que o PNBEPH deverá ajudar a cumprir.
O PNBEPH vai, em termos de qualidade da água, em sentido oposto aos objectivos da DQA, que tem como principal objectivo evitar a continuação da degradação e proteger e melhorar o estado dos ecossistemas aquáticos, e também dos ecossistemas terrestres e zonas húmidas directamente dependentes dos ecossistemas aquáticos.
No entanto, de acordo com a mesma Directiva, esta não é violada desde que os empreendimentos sejam justificados como uma actividade necessária ao desenvolvimento humano e que “sejam tomadas todas as medidas exequíveis para mitigar o impacto negativo sobre o estado da massa de água”.
(...)
A criação de novos planos de água será equivalente à criação de novas reservas de água. Estas novas reservas de água poderão servir também para disponibilizar maiores caudais de água para acções de higiene, primeiros cuidados de saúde e salubridade. A sua mobilização poderá contribuir também para minimizar quaisquer doenças derivadas da menor qualidade da água e sobretudo da falta de fiabilidade de funcionamento dos sistemas de Águas de Abastecimento e de Águas Residuais.
Contribuição para o cumprimento dos objectivos preconizados no domínio do aproveitamento de águas termais, desde que antes da construção das barragens se proceda ao estudo das águas termais existentes e se proceda à análise das suas possíveis utilizações no âmbito do PNAAS.

Curiosamente, o que os melancias e todos associados ao processo parecem querer esconder é que provavelmente o maior problema da água das novas barragens do PNBEPH, será igualmente a consequência da necessidade de bombear a água para as barragens a montante, com utilização da energia eólica. O próprio estudo da ARCADIS, para a Comissão Europeia, e que tanto júbilo incutiu nos melancias, não faz uma única referência ao problema! Em 400 páginas, não arranjaram sequer um parágrafo para falar do problema!!! Curiosamente, o estudo considera mesmo (Tabela 6, página 293) que a existência de bombagem é "mais favorável" em termos de impacto ambiental!

São muito os potenciais problemas de andar a bombear a água, com a energia do vento. Tal será mais frequente no Verão, que no Inverno. Uma miríade de problemas ocorrem-me em segundos, mas sem que se vejam referidos pelos melancias, porque eles sabem que todas estas consequências resultam unicamente da energia eólica:
  • maior aquecimento médio das águas, nas albufeiras, e a jusante;
  • disrupção da estratificação térmica;
  • maior turbulência em termos de sedimentos;
  • mais frequentes e rápidas alterações de níveis de água;
  • maior erosão devido às ondas criadas em ambos os reservatórios;

Destes problemas derivam imediatamente outros. Outros problemas surgem com a localização de determinadas barragens reversíveis, como é o caso de Foz Tua, que vai passar a incorporar água do rio Douro. Toda a poluição que vem pelo Douro abaixo vai passar a ser bombeada para cima, para o rio Tua. Porque é que nenhum ecologista ainda falou nestes problemas? Porquê?