quinta-feira, 2 de junho de 2011

Como se enterra um país

Um leitor informou-me que o Ecotretas tinha sido referenciado num post do Jugular. Tudo por causa de um post, e de uma troca de argumentos no Jugular, que não caiu bem ao Tiago Julião Neves. Vai daí, convocou o pseudo-conhecimento científico da pandilha que nos vai enterrando (Ver último parágrafo do post), e lá foram papagueando o habitual! Tudo isto merece ser, mais uma vez, desmascarado:

  • Sobre o gás shale
    Tiago foge à pergunta gracejando que "o shale gas que está ali a brotar do sofá da sala". Efectivamente, o gás é potencialmente mesmo muito, e daí a sua tentativa de esconder o elefante por debaixo do tapete!

  • Sobre a necessidade das novas barragens
    Tiago aborda a "valia intrínseca relacionada com a produção própria e com a gestão das bacias hidrográficas onde estão inseridas". Eu até sou a favor das barragens, mas estas novas barragens aparecem apenas para armazenar a energia eólica em excesso, que ocorre em maior quantidade durante a madrugada... Acresce que o saldo energético das barragens será praticamente nulo, ou mesmo negativo, pois Pinto de Sá assume uma eficiência da bombagem superior à observada na prática. Tiago termina a justificação com o facto das barragens estarem concluídas entre o final de 2015 e 2018, relacionando isso também com a perca das tarifas feed-in a partir de 2020. O que Tiago não entende, ou não quer assumir, é que até lá, as eólicas continuam a mamar as valentes tarifas feed-in, e que as barragens surgem justamente a pensar no período pós 2020... E aí serão barragens de suporte às eólicas. Sem eólicas, não precisaríamos delas para nada!

  • Sobre a Garantia de Potência
    Tiago dá uma aula de História sobre CAE, CMEC, etc. Mas o que ele esconde é que há muitos momentos em que as eólicas não estão lá, e é preciso continuar a fornecer energia... Ou seja, pagamos um preço absurdo pelo preço da energia eólica, temos que construir barragens para armazenar e desperdiçar essa energia caríssima, e ainda temos que pagar às térmicas para não produzirem nesses momentos. É o 3 em 1 da nossa desgraça!!!

  • Sobre as eólicas à noite
    Já acima nos referimos a um e outro post que fizemos sobre a inconveniência das eólicas produzirem essencialmente de madrugada... A valores médios de períodos significtivos, Tiago contrapõe o passado dia 19 de Janeiro. Tiago devia saber que a análise de um único dia é burrice... E ainda aborda a diferença entre noite e madrugada! Francamente Tiago! Fala finalmente de uma diferença de apenas 5%, mas como economista, Tiago deveria saber que mais 5 pontos percentuais relativamente a 25%, representam uma percentagem superior de 20%...

  • Sobre o custo zero das exportações
    Tiago refugia-se em valores médios e valores anuais, para esconder a coisa. Mas os números concretos, observados todos os períodos do ano de 2010, dizem coisas bem diferentes! Dos períodos horários em que a energia exportada se verificou a custo zero, contam-se 257 períodos, correspondentes a cerca de 3% do ano. Importações a custo zero verificaram-se em 75 períodos. Números mais impressionantes podem-se verificar nas quantidades de energia: em exportações a custo zero, exportamos cerca de 174 GWh, enquanto as importações a custo zero somaram 27 GWh. Se ainda quisermos olhar para as trocas a tarifas mais baixas, inferiores a 10€/MWh, vemos que exportamos 277 GWh, enquanto importamos quase 92 GWh. Também aqui se nota um aumento da nossa desgraça, embora o rácio entra as exportações e importações diminua...

  • Sobre a exportação a preços ridiculamente baixos
    Na verdade, parte da resposta está no ponto anterior. E também há que atender à hidrologia, como é referido. O problema neste caso é que a gestão dos recursos energéticos nacionais ainda complicou mais a coisa. Em vez de turbinar, andou-se a bombar. Para depois descarregar, como oportunamente expus, repetidamente!
    Depois, Tiago continua invocando uma série de banalidades, conhecidas, para fugir verdadeiramente à seringa. Para que Tiago perceba bem o que está em causa, nomeadamente com a energia eólica, vejamos os três gráficos abaixo. Cada um dos pontos representa um período de uma hora do ano, estando os gráficos ordenados por ordem crescente de preço, visível em termos da sua evolução no primeiro gráfico. No segundo gráfico vemos a evolução da produção de energia eólica para os mesmos períodos, enquanto no terceiro gráfico temos a correspondente produção através de gás natural, nos mesmos períodos horários. Em ambos os casos, o eixo dos yy são valores de produção de energia, em MWh.
    Resulta muito fácil perceber que há uma correlação visível entre o gás natural e o preço, mas o que se observa para a produção eólica é exactamente o inverso! Ou seja, há muita maior probabilidade de estarmos a produzir energia eólica quando o preço é baixo, e quando o preço é elevado, o vento sopra bastante menos! Causa ou consequência, Tiago?


  • Sobre as vantagens competitivas de ter um preço de energia barato
    Tiago é daqueles que pensa que a energia até está barata... Especialmente para as empresas! Tiago deve saber que o gato escondido tem o rabo de fora. Como Pinto de Sá claramente evidenciou neste post, relativamente à questão do IVA. Mesmo não considerando o IVA, a nossa posição não é famosa. E provavelmente andamos a engrupir a Europa, como é costume...

Já depois de ter escrito a sua prosa, ficamos a saber nos comentários que Tiago tenta a abordagem do nuclear. Esquece-se, ou não quer saber, que o Ecotretas não é favorável ao nuclear em Portugal. Mas ainda mais surpreendente é o Tiago assumir que a resposta é "de alguém que percebe mais de energia do que eu e arrisco a dizer bastante mais do que você", e novamente nos comentários referir que "o mérito deste post é 90% de um amigo que se deu ao trabalho de desmontar as teorias mirabolantes do ecotretas.". Só por isto, está tudo dito!!! Tiago e o amigo fazem parte desta pandilha que têm vindo a enterrar o País!