terça-feira, 21 de junho de 2011

A armadilha de pesca de Silvalde

Se há uma coisa que os alarmistas presentes, que são sobretudo jovens, não gostam, é da disciplina de História. Porque a História nos revela realmente o que aconteceu no passado, dando-nos pistas valiosas para o presente, e a previsão do futuro. Acresce que, a maioria dos alarmistas só gosta de teclar, e não meter as mãos na massa, como o fizeram os responsáveis pela descoberta da armadilha de pesca da época romana, descoberta na praia de Silvalde, em Espinho, em 1989.

O melhor relato da descoberta que conheço online é esta digitalização da revista o Arqueólogo Português, e cuja leitura integral recomendo. Da sua leitura, uma das partes que mais me sensibilizou foi o relato do avanço do mar, em Espinho e Ovar:

Com efeito, as primeiras notícias consistentes sobre o recuo do litoral desta região remontam a meados do século XIX, de que são exemplo as invasões do mar verificadas em Ovar, em 1857, e Espinho, em 1869, regiões de baixas planuras litorais, particularmente afectadas por este fenómeno. Como refere, em 1909, Ferreira Diniz, «datam de 1869 os primeiros desastres em Espinho, que se repetiram depois, em 1874, onze anos depois em 1885, e quase consecutivamente, com pequenos intervalos de repouso até hoje».

Bem, que eu saiba as emissões de CO2 eram quase nada naqueles tempos, comparados com hoje... Será que havia influência antropogénica na altura? Parece que sim:

Sant'Anna Dionísio descreve bem a evolução do litoral na zona de Espinho: «... foi a partir de 1855, pouco depois do início das obras de Leixões, que o mar principiou a destruir a vila-praia. Durante 27 anos consecutivos o mar avançou cerca de 300 metros. Em 1912 havia desfeito algumas centenas de casas. De 1912 a 1916 a praia manteve-se e melhorou sensivelmente, concentrando o depósito arenoso.
(...)
A melhoria assinalada por este A., entre 1912 e 1916, é consequência, seguramente, da construção, iniciada em 1911, dos três primeiros esporões em Espinho (os primeiros construídos na costa oeste portuguesa), os quais melhoraram de forma efectiva, embora temporária, a situação em frente à vila (...)

Enfim, deixo acima uma imagem que documenta a planta do centro de Espinho nos finais do século XIX / inícios de século XX, e em que se encontram assinaladas as diversas fases do avanço do mar, nesses tempos idos. Em que ainda não havia Aquecimento Global antropogénico, mas uma subida maior dos níveis do mar?!