Rui Rodrigues referencia no artigo um obscuro, mas interessante livro designado "Energia 1995-2015. Estratégia para o Sector Energético", editado em Março de 2006 pela Direcção Geral de Energia, do então Ministério da Indústria e Energia. Dizia-se aí que o preço do petróleo seria de 23, 28 e 28 dólares, para os anos de 2000, 2005 e 2015, respectivamente. Note-se que as previsões não bateram certo com a evolução verificada.
Rui Rodrigues, infantilmente, prosseguiu com a premissa de que todos os erros da política de transportes derivavam dos dados nesse documento, como se alguém lhe tivesse dado a mínima importância. E como defensor da ferrovia, Rui Rodrigues critica então o maior investimento na rodovia.
Porque é esta abordagem infantil? Primeiro, porque quem mais estimulou as auto-estradas em Portugal, e mais concretamente as SCUTs, foram os governos do PS, e especialmente de António Guterres. Como se pode ver na imagem seguinte, com a evolução dos quilómetros de auto-estrada em Portugal, com dados do Eurostat (nota para a ausência de valores entre 2003 e 2005, mas irrelevante neste contexto), atribuir ao governo de Cavaco, aos seus ministros e secretários de estado, o desvario das PPPs, SCUTs e auto-estradas é, pura e simplesmente, ridículo!
Este raciocínio tem-se espalhado devagar, dada a sua infantilidade. Veja-se todavia o recente exemplo de António Cerveira Pinto, que lamentavelmente não faz a menor ideia de quem e como nos desgovernaram nos últimos 15 anos:
O cavaquismo tardio planeou a nossa euforia económica e felicidade cultural apostando num cenário macro-económico assente em futuros barris de petróleo a custarem, em 2015, 28 dólares! Autoestradas, pontes e aeroportos, barragens inúteis e assassinas, estádios impagáveis e rotundas estúpidas, seriam o mato ideal para engordar as ratazanas e os populistas de serviço. Acontece que o dito ouro negro ultrapassou as 100 notas verdes e tudo indica que não só não voltará a ser barato, como será cada vez mais caro. Portugal, dada a ignara irresponsabilidade de economistas, engenheiros e políticos (e a sempre avidez das ratazanas), precisa de 120 milhões de barris de petróleo por ano para manter o seu imprevidente e inviável estilo de vida. Na previsão irrealista do último governo de Cavaco Silva e dos que lhe seguiram as pisadas, o país deveria estar a gastar em 2015 qualquer coisa como 3.360.000.000 de dólares em importações de petróleo. No entanto, a verdade dos factos em 2012 andará certamente acima dos $12.000.000.000! |
Mas, enfim, eles ainda se poderiam gabar de ter descoberto que afinal o problema destes anos todos, não foi de quem nos efectivamente enterrou, mas sim uma previsão num livro obscuro, com tiragem limitada, e que praticamente ninguém terá lido! Para estes tretas, a recomendação de leitura pode ser muito diversa. Podem começar por estas previsões justamente de 1995. Noutro documento podemos igualmente ver como as previsões passadas, mesmo num cenário mais estável, não saíram grande espingarda. Muitos mais haverá na Internet...
Mas onde eles deveriam ir é ao International Energy Outlook de 2001, do Departamento de Energia dos Estados Unidos, de onde retirei o quadro abaixo, da página 41 do documento (53 do PDF). Em pleno pântano de António Guterres, mais de cinco anos depois do obscuro livro de 1995, estão aqui visíveis as projecções do preço do petróleo até 2020 (clicar para ver melhor):
Note-se como entidades como a Standard & Poor's, a Agência Internacional da Energia, Deutsche Bank, e o próprio Departamento de Energia, dão valores inferiores aos da previsão portuguesa! Pasme-se! Para estas grandes instituições internacionais, o preço mais elevado do barril de petróleo que poderíamos esperar para 2020 seria de 28.42 dólares americanos!
De quem é a culpa afinal?