Rajendra Pachauri esteve recentemente em Portugal, como havia aqui referido há pouco menos de duas semanas. Para quem seguiu o evento, não há como realçar a introdução inicial de Teresa Gouveia, administradora da Fundação Calouste Gulbenkian, que segundo este excelente post de Manuel Brás, "fez uma introdução prudente e cuidadosa, próxima do realismo". O resto da conferência foi, na verdade, maçador...
Tal como previra, os jornalistas portugueses foram apenas ao beija-mão, com uma notável excepção. No suspeito Público, Ricardo Garcia, fez uma entrevista que considero adequada, com o tipo de perguntas que eu faria:
- Há três anos o IPCC ganhou um Prémio Nobel. Agora, temos o climategate, erros nos relatórios do IPCC, acusações contra si. O que está a acontecer?
- Voltando ao erro sobre os glaciares. Foi um erro maior...
- Mas isto fez manchetes...
- Como podemos ter a certeza de que não há outros erros como este nos relatórios do IPCC?
- Alguma vez considerou renunciar à presidência do IPCC?
- O que tem a dizer sobre as acusações de conflito de interesses de que tem sido alvo?
- Uma das acusações é a de que está a usar o seu prestígio como presidente do IPCC para conseguir apoios para o seu instituto [TERI] e para as organizações para as quais trabalha como consultor. Não há aí um conflito de interesses?
- Tem dito que o cepticismo crescente em relação às alterações climáticas é um mero lampejo que irá passar. Por que acredita nisso?
- Os inquéritos mostram que a mensagem dos cépticos, antes mais restrita a alguns pontos do mundo, está a espalhar-se, especialmente na Europa, tradicionalmente mais consciente do problema das alterações climáticas. Isso preocupa-o?
- Os cépticos são ouvidos dentro do IPCC?
- O que pergunto é se os seus argumentos são avaliados integralmente para saber se são verdadeiros ou não?
- Há hoje uma exigência muito maior pela responsabilização da ciência das alterações climáticas. Isto não torna mais difícil o trabalho para o próximo relatório do IPCC?
- E o que haverá de novo?
- Por exemplo?
- O processo do IPCC é muito longo, o lapso de tempo entre o último e o penúltimo relatórios foi de sete anos. Há alguma maneira de o encurtar?
- Para a política, não é necessário uma espécie de avaliação intermédia?
- Uma das missões do IPCC era a de esclarecer o que é que seria uma contribuição humana "perigosa" para o clima. Mas ainda não chegou a esta conclusão. Chegará algum dia?
- Então faz algum sentido dizer que um aumento de dois graus na temperatura média global é razoável?
- Está frustrado em relação à cimeira climática de Copenhaga?
- Mas costuma dizer que não há tempo a perder...
- Mas Copenhaga representou um atraso...
- Nos Estados Unidos, um forte lobby está a bloquear uma lei climática no Senado. Isto é a sociedade a não fazer o seu papel? Isto pode mudar?
- Se tivesse de apontar três medidas para os cidadãos na luta contra as alterações climáticas, quais seriam?
- Já sugeriu uma vez que nos hotéis deveria haver contadores de electricidade nos quartos...
- E quanto a ser vegetariano, como é o seu caso?
- Dado que viaja muito, como lida com a sua pegada carbónica?
- Podia ter feito uma videoconferência...
- Mas faz alguma coisa para compensar as suas emissões de CO2?
- Compra créditos de emissões para compensar as suas viagens aéreas?