quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Tretas e mais tretas de incêndios

Os leitores mais habituais já terão estranhado a ausência de mais referências à problemática dos fogos florestais, que estão este ano de volta e em força, na minha opinião sobretudo por via do Inverno muito chuvoso que tivemos. As muitas tretas que se ouvem por aí esquecem que a grande maioria do território não está ainda em situação de seca, como o próprio Instituto de Meteorologia refere (realces da minha responsabilidade):

Em 31 de Julho de 2010 verifica-se o aparecimento de seca meteorológica fraca em alguns locais de Portugal Continental, mantendo-se, no entanto, um índice de “chuva fraca” na maior parte do Continente.

Desta forma, em termos de percentagem do território o ( índice de seca meteorológica PDSI ) apresenta a seguinte distribuição: 2% em chuva moderada, 53% em chuva fraca, 23% em situação normal e 21% em seca fraca e 1% em seca moderada.

Como facilmente se depreende da imagem acima, as plantinhas e o mato têm encontrado ingredientes para crescerem, facto que parece ter escapado à maior parte dos analistas na temática. Nada que fosse muito difícil de prever, dado o Inverno chuvoso que tivemos!

O melhor que os políticos conseguem fazer é comparar este ano com os de 2003 e 2005, em que grandes fogos existiram, mas com condições completamente distintas das de este ano. Rui Pereira, é um actor surdo no meio da tragédia. O ministro da Agricultura, António Serrano, não se lhe ficou atrás, e ontem propôs a "nacionalização" das propriedades mal cuidadas. Como pode um Ministro propôr isto, quando é o Governo que não cumpre, como se pode inferir, entre outras, pelo conteúdo da seguinte notícia (realces da minha responsabilidade):

São 23 os fiscais no Parque Nacional da Peneda-Gerês que agora passam os dias em casa, sem condições de vigiar mais de 280 mil hectares.
A falta de dinheiro tem justificado que a viatura fique parada e, consequentemente, que não haja fiscalização. As saídas eram feitas, ainda há meses, por transportes públicos, algo que já não acontece por falta o dinheiro, como confirmou à TSF o presidente do conselho directivo dos baldios de Vilar da Veiga.
(...)
Para além disso, até para sair de casa, a pé, os fiscais precisam de uma autorização do director do parque. Trata-se de uma prisão domiciliária, comentou à TSF, com ironia, um dos guardas.
(...)
O ano passado, o Ministério do Ambiente aprovou um plano de prevenção que previa uma vigilância feita por 23 pessoas e com meios, que nunca foram usados.
Só esta semana é que foi requisitada uma viatura para Castro Laboreiro, mas porque, em breve, o parque recebe a visita da Comissão Parlamentar da Agricultura.

Outros políticos são mais atinados. Um autarca do PS descreve como são afectas as prioridades nos combates aos incêndios (realces da minha responsabilidade):

"Estou desesperado. Quando vejo os meios a serem canalizados para uma área protegida em que está a arder mato e nós temos casas a arder há dois dias e ninguém nos manda apoio, gera indignação", afirmava o autarca do PS, José Maria Costa.

Destaque para o Henrique Pereira dos Santos, do blog Ambio, que tem feito um trabalho notável a desmascarar as tretas deste negócio do fogo. Temos tido divergências no passado, mas neste aspecto, ultrapassou-me na quantidade de tretas expostas! Finalmente, devemos lamentar as mortes humanas, que este devaneio dos políticos e outros responsáveis provocam...