Um dos principais problemas associado a estas subidas está nos níveis salariais das nossas empresas públicas. Neste post abordarei o caso do Metropolitano de Lisboa, por ser o mais flagrante (na minha opinião), mas coisas semelhantes passam-se nomeadamente na CP. Comecemos pela quantidade de funcionários do Metro. Neste documento do Tribunal de Contas, não há dúvidas de como estamos mal:
Em 2007, a Empresa integrava, em média, 2.879 efectivos, dos quais 1.685 eram colaboradores activos e 1.194 inactivos com os quais o Metropolitano assumiu responsabilidades. |
E como ganham esses funcionários? Neste artigo do Correio da Manhã de 2006, não há que enganar:
O nível salarial do Metropolitano de Lisboa é o segundo mais elevado da Europa. Só os funcionários do sistema subterrâneo de comboios de Viena de Áustria ganham mais do que os trabalhadores do Metro da capital portuguesa. |
Somos um país rico, pois claro! Mas quanto é que eles ganham mesmo? Esse é praticamente um buraco negro, mas é possível lá chegar. No último Relatório e Contas de 2009, podemos chegar a algumas conclusões. Em 31 de Dezembro de 2009 (tabela página 51), a quantidade de colaboradores activos era de 1636, mas os inactivos tinham subido para 1345. Mais à frente, na página 64, podemos ver que os custos com pessoal foram de quase 85 milhões de euros! Se contarmos activos e inactivos, cada colaborador custa 28500 euros/ano, de média, pois claro!
Se formos buscar os extremos, estamos bem aviados! Aqui, podemos ver que em 2009 um técnico superior auferiu 114 mil euros. Neste link, a informação é mais ou menos coerente, indicando que o maquinista mais bem pago do Metro aufere um salário de 7351 euros/mês. E que a média é de 3883 euros/mês!!! Para quem só precisa de ter o 9º ano, e conduzir 3 horas por dia, convenhamos que não é mesmo nada mau...
Mas como é possível chegar a estes valores, se os ordenados publicados até nem são tão elevados? Fiquem a conhecer os subsidiozinhos... Mais uma vez o Tribunal de Contas:
O Metropolitano de Lisboa despendeu, em 2007, cerca de 8,8 milhões de euros em subsídios específicos, previstos nos Acordos de Empresa, não existindo evidência de que todos tenham contribuído para estimular a produtividade. Ademais, no mesmo ano, foram expendidos 1,3 milhões de euros com a atribuição de prémios, dos quais 900 mil euros, associados a dois Prémios de Assiduidade, os quais mais se consubstanciavam numa componente fixa da remuneração auferida do que a um prémio. |
Vejam o detalhe na seguinte tabela:
Mas que subsídios são estes? Comecemos pelo primeiro, o Subsídio de Agente Único. Segundo o Tribunal de Contas:
De acordo com as alegações prestadas pelo Presidente do CG do Metropolitano de Lisboa, o presente subsídio teve a sua origem em 1995 em consequência da redução da tripulação dos comboios a apenas um agente, implicando, assim, a extinção da categoria funcional do Factor. Desta forma, a Empresa pretendeu com a criação daquele subsídio, abonar os Maquinistas por assumirem na íntegra as funções antes atribuídas ao Factor. |
Mas que raio era o Factor? Segundo o artigo do Correio da Manhã acima, era o responsável pela abertura e fecho das portas. Ou seja, os maquinistas, por abrirem e fecharem as portas, receberam mais 1.2 milhões de euros em 2007... Os outros subsídios seguem exactamente a mesma lógica, de fazer corar qualquer português, sobretudo aqueles que ganham uma miséria...
E perante esta fartazana, seria de esperar que eles seriam colaboradores aplicados. O Zé Povinho sabe que não, mas o Tribunal de Contas confirma:
É de sublinhar que não existe evidência de que todos estes benefícios atribuídos tenham surtido quaisquer impactos ao nível da diminuição da Taxa de Absentismo, a qual rondava, em 2007, os 8%, mostrando alguma rigidez face às taxas observadas entre 2003 e 2006. O Metropolitano depara-se com consideráveis taxas de absentismo, nomeadamente do pessoal afecto às estações (agentes de tráfego e operadores de linha), as quais apresentavam maior agravamento nas linhas azul e amarela, 12,66% e 15,45%, respectivamente e, ainda, ao nível da operação (maquinistas) que intervalaram, naquele ano, entre os 6,52% e os 9,37%. |
Aquela ideia de que são as administrações das empresas a causar estes prejuízos é apenas a ponta do icebergue. Mas não são esses os únicos portugueses de primeira, de que os jornais tanto gostam de falar...