quinta-feira, 28 de julho de 2011

Subidas nos transportes públicos

Os transportes públicos são das bandeiras favoritas dos ecologistas. A subida prevista de 15% para o próximo mês obviamente deixou as mais acérrimas melancias desorientadas, embora com algumas notáveis excepções.

Um dos principais problemas associado a estas subidas está nos níveis salariais das nossas empresas públicas. Neste post abordarei o caso do Metropolitano de Lisboa, por ser o mais flagrante (na minha opinião), mas coisas semelhantes passam-se nomeadamente na CP. Comecemos pela quantidade de funcionários do Metro. Neste documento do Tribunal de Contas, não há dúvidas de como estamos mal:

Em 2007, a Empresa integrava, em média, 2.879 efectivos, dos quais 1.685 eram colaboradores activos e 1.194 inactivos com os quais o Metropolitano assumiu responsabilidades.

E como ganham esses funcionários? Neste artigo do Correio da Manhã de 2006, não há que enganar:

O nível salarial do Metropolitano de Lisboa é o segundo mais elevado da Europa. Só os funcionários do sistema subterrâneo de comboios de Viena de Áustria ganham mais do que os trabalhadores do Metro da capital portuguesa.

Somos um país rico, pois claro! Mas quanto é que eles ganham mesmo? Esse é praticamente um buraco negro, mas é possível lá chegar. No último Relatório e Contas de 2009, podemos chegar a algumas conclusões. Em 31 de Dezembro de 2009 (tabela página 51), a quantidade de colaboradores activos era de 1636, mas os inactivos tinham subido para 1345. Mais à frente, na página 64, podemos ver que os custos com pessoal foram de quase 85 milhões de euros! Se contarmos activos e inactivos, cada colaborador custa 28500 euros/ano, de média, pois claro!

Se formos buscar os extremos, estamos bem aviados! Aqui, podemos ver que em 2009 um técnico superior auferiu 114 mil euros. Neste link, a informação é mais ou menos coerente, indicando que o maquinista mais bem pago do Metro aufere um salário de 7351 euros/mês. E que a média é de 3883 euros/mês!!! Para quem só precisa de ter o 9º ano, e conduzir 3 horas por dia, convenhamos que não é mesmo nada mau...

Mas como é possível chegar a estes valores, se os ordenados publicados até nem são tão elevados? Fiquem a conhecer os subsidiozinhos... Mais uma vez o Tribunal de Contas:

O Metropolitano de Lisboa despendeu, em 2007, cerca de 8,8 milhões de euros em subsídios específicos, previstos nos Acordos de Empresa, não existindo evidência de que todos tenham contribuído para estimular a produtividade.
Ademais, no mesmo ano, foram expendidos 1,3 milhões de euros com a atribuição de prémios, dos quais 900 mil euros, associados a dois Prémios de Assiduidade, os quais mais se consubstanciavam numa componente fixa da remuneração auferida do que a um prémio.

Vejam o detalhe na seguinte tabela:



Mas que subsídios são estes? Comecemos pelo primeiro, o Subsídio de Agente Único. Segundo o Tribunal de Contas:

De acordo com as alegações prestadas pelo Presidente do CG do Metropolitano de Lisboa, o presente subsídio teve a sua origem em 1995 em consequência da redução da tripulação dos comboios a apenas um agente, implicando, assim, a extinção da categoria funcional do Factor. Desta forma, a Empresa pretendeu com a criação daquele subsídio, abonar os Maquinistas por assumirem na íntegra as funções antes atribuídas ao Factor.

Mas que raio era o Factor? Segundo o artigo do Correio da Manhã acima, era o responsável pela abertura e fecho das portas. Ou seja, os maquinistas, por abrirem e fecharem as portas, receberam mais 1.2 milhões de euros em 2007... Os outros subsídios seguem exactamente a mesma lógica, de fazer corar qualquer português, sobretudo aqueles que ganham uma miséria...

E perante esta fartazana, seria de esperar que eles seriam colaboradores aplicados. O Zé Povinho sabe que não, mas o Tribunal de Contas confirma:

É de sublinhar que não existe evidência de que todos estes benefícios atribuídos tenham surtido quaisquer impactos ao nível da diminuição da Taxa de Absentismo, a qual rondava, em 2007, os 8%, mostrando alguma rigidez face às taxas observadas entre 2003 e 2006. O Metropolitano depara-se com consideráveis taxas de absentismo, nomeadamente do pessoal afecto às estações (agentes de tráfego e operadores de linha), as quais apresentavam maior agravamento nas linhas azul e amarela, 12,66% e 15,45%, respectivamente e, ainda, ao nível da operação (maquinistas) que intervalaram, naquele ano, entre os 6,52% e os 9,37%.

Aquela ideia de que são as administrações das empresas a causar estes prejuízos é apenas a ponta do icebergue. Mas não são esses os únicos portugueses de primeira, de que os jornais tanto gostam de falar...