terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Areia para os olhos dos madeirenses

A história do radar meteorológico para a Madeira tem sido a forma que o IM arranjou para disfarçar o seu inqualificável falhanço na previsão do dilúvio que se abateu sobre a Madeira, no passado fim de semana. Como diz o DN, foi necessária a ocorrência de uma tragédia da dimensão da que agora aconteceu na Madeira para o Ministério da Ciência e da Tecnologia, Mariano Gago, dar luz verde à instalação de um radar meteorológico no arquipélago.

O Ministro diz que o radar até foi anunciado antes da tragédia, na semana passada, no dia 16. Ele esquece-se é de dizer que já deu luz verde ao projecto em 2008, mas que se esqueceu de avançar com o financiamento. À TSF, Adérito Serrão, presidente do Instituto de Meteorologia, afirmou que a instalação de um radar meteorológico na Madeira "entrou no quadro de preocupações" do IM, mas não quis precisar uma data para a colocação do aparelho pois esta implica "capacidade de financiamento". Mas para Victor Prior, delegado do IM na Madeira, a coisa não é bem assim, sendo que ele dizia antes da tragédia, na semana passada:

Seguramente que será um bom investimento, daqui por três a cinco anos. É algo em que o IM está empenhado e eu, como meteorologista, sinto também a falta desse equipamento que nos permite fazer uma vigilância à volta da Madeira de cerca de 200 quilómetros

Mas, para que serve o radar? Segundo o presidente do IM, a inexistência de um radar na ilha "dificulta a previsão destes fenómenos que poderiam ser antecipados entre quatro a cinco horas antes de tudo acontecer". Mas para o Ministro, que falava hoje na Assembleia da República, o radar permite "antecipar talvez em duas ou três horas o alerta emitido". O Delegado do IM na Madeira, esclarece:

O nosso interlocutor considera que as informações por radar são das mais importantes em termos de observação meteorológica, possibilitando acompanhar de 5 em 5 minutos a evolução de células conectivas, associadas a situações de precipitação intensa, em vez dos actuais 15 minutos através das imagens de satélite, com um atraso de 5 a 10 minutos.

Afinal, eles até têm imagens de satélite, que são actualizadas de 15 em 15 minutos!!! O radar permite acompanhar de 5 em 5 minutos. Ainda estão a seguir o raciocínio do Adérito e do Ministro?

E quanto é que custa? A maioria diz que são dois milhões de euros. No Jornal da Madeira, o investimento é de 3 a 4 milhões de euros. Não fiquem admirados se a coisa derrapar muito...

Pensando bem, os radares também não funcionam sozinhos. O problema parece ser diferente: o de tratar os dados de satélite, os tais que até estão disponíveis de 15 em 15 minutos. Será que há quem trate disto localmente na Madeira? Uma rápida observação ao "Plano de Actividades 2009" do Instituto de Meteorologia (o último disponível) revela (pag. 139 e seguintes) que são 20 os recursos humanos da Delegação Regional da Madeira (DRM). Repare-se na Memória Descritiva das Actividades da DRM, com especial destaque para as da DRM02:

DRM01Criar condições para uma maior frequência no referente às manutenções periódicas às estações (Estações Meteorológicas Automáticas e Clássicas).
Substituição de alguns equipamentos das Estações Clássicas com particular destaque para as estações dos Aeroportos da Madeira e Porto Santo.
Acções de formação nos locais de trabalho dadas por pessoal do COBE e do CMAE.
Promover conjuntamente com outras UO do IM a instalação de pelo menos mais duas Estações Meteorológicas Automáticas.
DRM02Centro Meteorológico do Aeroporto do Porto Santo: Substituição do pavimento em 2 salas, substituição de persianas das janelas, arranjos e pintura da vedação do parque meteorológico. Colocação de uma protecção no varandim que ladeia o Centro.
Centro Meteorológico do Aeroporto da Madeira: Substituição dos pavimentos, arranjo nas canalizações, loiças sanitárias.
Observatório do Funchal: Substituição dos pavimentos em 4 salas, arranjos e envernizamento do pavimento em 3 salas. Arranjo nos sanitários (homens), substituição de loiças, chão, azulejos de paredes e 2 portas interiores. Substituição da rede de água antiga (50 anos).

Resumindo, sem ovos não se fazem omoletes. Mas de que vale a pena ter os ovos, se não se têm quem os cozinhe???