sábado, 28 de janeiro de 2012

A cartografia antes de Melgueiro

Após um artigo inicial sobre David Melgueiro, e outro sobre as explorações procurando a Passagem do Nordeste antes de 1660, vamos neste abordar a cartografia disponível à época da possível viagem de Melgueiro.

Por volta de 1490, o cartógrafo alemão Henricus Martellus produziu um mapa do Mundo conhecido até então, visível na primeira imagem abaixo, onde é visível uma faixa de água no norte do continente asiático, indiciando assim a possibilidade da existência de uma passagem do Nordeste. Martellus produziu ainda mais mapas, visíveis neste link. No início do século XVI, em 1507, o cartógrafo alemão Martin Waldseemüller produziu um mapa do Mundo contorverso. Uma análise detalhada da sua obra pode ser consultada aqui. No segundo mapa visível abaixo (retirado daqui), pode ver-se como também é dada a possibilidade de existência da Passagem do Nordeste.



Qualquer um destes mapas, bem como os de Martin Behaim, ao serviço de Portugal na altura, sofrem todavia fortes influência de Ptolemeu, e da sua obra Geographia.

Particularmente relevante neste domínio foram os mapas do cartógrafo Gerardus Mercator. Em 1569 produziu um mapa (imagem abaixo retirada daqui; maior detalhe aqui) com a sua projecção. Embora com notáveis erros em determinados locais do globo, o contorno do norte da Ásia revela-se aproximado com o real, excepto sobretudo na região mais a este da Sibéria. A Passagem do Nordeste é dada como um facto:


Em 1570, Abraham Ortelius, encorajado por Mercator, compilou o primeiro atlas moderno do Mundo, Theatrum Orbis Terrarum. Como se pode observar na imagem seguinte, também aqui toda a costa norte da Ásia é dada como navegável:


Na Biblioteca Nacional da Rússia encontramos mais uns mapas importantes. O primeiro mapa abaixo (imagem retirada daqui), de Abraham Ortelius, é dado como sendo de 1570, mas noutra fonte é dado como sendo de 1584. No mapa é perfeitamente visível o estreito de Anian, e é clara a possibilidade de contornar a Sibéria pelo norte. O segundo mapa, de Jodocus Hondius, de 1600, é baseado no mapa de Mercator de 1569, incorporando a expedição de Barents de 1595-1597. O terceiro mapa, de Hessel Gerritsz, é de 1613, e mapeia a Rússia, e a sua costa norte, incluindo também Novaya Zemlya. Pormenor importante sobre esta sequência é o facto de todos estes mapas serem feitos por Holandeses, ao serviço dos quais Melgueiro se encontrava.



Ainda antes da viagem de Melgueiro, há a destacar o trabalho do cartógrafo Willem Blaeu. Também ele um holandês, foi em 1633 nomeado cartógrafo oficial da Companhia Holandesa das Índias Orientais. Em 1635 produziu o Nova totius terrarum orbis geographica ac hydrographica tabula, visível abaixo:


Note-se como este mapa é muito mais real que o de Mercator e Ortelius. Blaeu produziu posteriormente mapas mais detalhados, também fruto do seu trabalho na Companhia. Na primeira das imagens abaixo (duas primeiras imagens retiradas daqui), de 1638, vemos em grande detalhe a costa norte da Rússia. Na segunda imagem, num mapa de 1640, podemos observar toda a extensão do mar Árctico. No terceiro mapa (imagem retirada daqui), também de 1638, podemos observar o extremo este do continente asiático, com mais alguns detalhes que os mapas anteriores.


O mistério envolvendo estes mapas, bem como outros, é abordada de forma interessante neste artigo. Em qualquer caso, é seguro dizer-se que David Melgueiro teria acesso a esta informação quando terá eventualmente efectuado a Passagem do Nordeste, em 1660.

Nota: Este post foi integrado numa página onde se relata toda a investigação efectuada sobre David Melgueiro: ecotretas.blogspot.com/p/david-melgueiro.html